DITOS POPULARES
BANCO
A origem do termo banco, para designar instituição financeira, é a seguinte: Os antigos cambistas faziam as suas transações nas praças públicas, e contavam o dinheiro sobre os bancos. Daqui veio o nome ao primeiro estabelecimento de crédito, que foi instituído em Veneza, no ano de 1157. O banco de Veneza (banca del giro)foi definitivamente organizado em 1587.
SERÁ O BENEDITO?!
A interjeição, muito popular no Brasil em certa época, exprimindo grande admiração por algo, teria se originado da indicação por Getúlio Vargas, do político relativamente desconhecido na ocasião, Bendito Valadares, para o governo de Minas Gerais em 1933. Como havia muitos nomes na disputa pelo governo mineiro, Getúlio escolheu Benedito para não desagradar nenhum dos favoritos e seus apoiadores. Com a indicação, a população começou a se questionar, surgindo então a famosa frase:
- Será o Benedito?!
PUXA-SACO
A bajulação, na gíria do Brasil colonial chamava-se “engrossamento”. Depois, na República Velha, passou a ser “chaleirismo” ou “chaleiramento”. O termo parece ter vindo dos aduladores do senador gaúcho Pinheiro Machado, figura política mais influente da sua época, que disputavam a tapa o privilégio de carregar-lhe a chaleira, e repor a água do seu chimarrão.
Só a partir dos anos 30 do século XX, foi que se popularizou o termo “puxa-saco”. O humorista Nestor de Holanda, que escreveu um tratado sobre o assunto (“O Puxa-saquismo ao alcance de todos”), afirma que a origem do termo não é tão escabrosa como pode parecer à primeira vista. Segundo ele, a expressão vem dos tempos em que era moda o casaco folgado, solto, não cintado, conhecido como paletó-saco. Os homens importantes adotaram a moda. Seus bajuladores viviam atrás deles, como que a puxar a ponta do paletó saco.
De qualquer forma, a expressão deu origem a um ditado de extrema sabedoria: “O saco do chefe é o corrimão do sucesso”.
O “LANTERNINHA”
A expressão lanterna ou “lanterninha”, significando o último colocado num campeonato esportivo, particularmente de futebol, teria se originado no antigo (e extinto) jornal de esportes “Gazeta Esportiva”, de São Paulo. Naqueles velhos tempos, as matérias abordando o Campeonato Paulista costumavam ser ilustradas pela caricatura de um trem, onde o líder do campeonato era a locomotiva (geralmente o Palmeiras), o 2º colocado o tênder, o 3º colocado o primeiro vagão, e assim por diante. O desenho mostrava, pendurado atrás do último vagão da composição, uma lanterna. E, por essa razão, o último colocado no campeonato era descrito sempre assim: “e o lanterninha do campeonato, é o time tal” (freqüentemente o Jabaquara…).
Há quem assevere , contudo, que o termo de gíria já existia antes disso, pois havia já no século XVIII, por razões de segurança, a obrigatoriedade de todos os veículos – de barcos fluviais a carruagens – carregarem uma lanterna vermelha acesa na sua traseira, para trafegar à noite. A lanterna “de popa” era, pois, a última coisa que vinha…
PÁRA-QUEDISTA
A expressão de gíria designa o funcionário que – nas atividades mais pacatas e terrestres -, entra na empresa ou órgão público já sendo “chefe”; driblando os trâmites regulamentares exigido do resto dos mortais: concurso público, fase probatória, experiência, tempo de serviço, etc.
Na estrutura burocrática oficial do tempo do Império, os funcionários faziam carreira, e a conquista de um cargo de chefia implicava em ter labutado antes longos anos nos escalões inferiores.
Artur Azevedo, por exemplo, embora já ilustre teatrólogo, jornalista e escritor; só foi promovido a chefe de sua seção (um posto modesto, até então exercido por Machado de Assis), após ter passado mais de trinta anos como amanuense. Tanto que a promoção foi-lhe de breve valia: Azevedo veio a falecer uma semana após sua nomeação!
Com o advento da República, porém, tudo mudou: para ser chefe bastava ser militar, ou ter boas relações nas oligarquias dominantes. De uma hora para a outra, um indivíduo, totalmente alheio ao serviço público, já entrava neste como “chefe”.
Como por volta de 1900, fossem muito comuns no Rio os espetáculos de pára-quedistas europeus, que jogavam-se de balões (um dos muito modismos da época no campo das diversões, como as “mágicas” teatrais e ou as touradas), alguém, provavelmente um colega preterido em suas aspirações, lembrou-se de fazer a analogia.
MACACO
De onde vem o termo macaco? A origem é incerta, mas acredita-se que tenha vindo de uma língua africana, provavelmente o banto (por exemplo: no quinguana, falado no Congo, temos makako, indicando um símio).
O fato é que o macaco, por ser o animal mais semelhante ao homem, presta-se a uma série de fábulas e anedotas. E achamos o macaco o animal mais engraçado, exatamente porque nos vemos nele. O macaco seria uma “caricatura” do homem.
Assim, nos parecerem agitados, irracionais, ridículos, escandalosos, etc., deram origem a uma série de expressões e termos de gíria: As moças que costumam freqüentar os programas de auditório (gritando e tendoxiliques, ao verem seus ídolos da música ou da TV, no palco), são apelidadas macacas de auditório; de quem, um certo dia, parece estar particularmente irritado ou desequilibrado, diz-se que está com a macaca; dos loucos dizemos que tem macaquinhos no sótão, etc., etc.
FALAR PELOS COTOVELOS
De pessoas tagarelas costumamos dizer que falam pelos cotovelos. Ninguém sabe exatamente de onde se originou a expressão, contudo há quem julgue que provenha do hábito que tem tais indivíduos de gesticular muito, para dar maior ênfase às palavras. Essa é uma característica que costumamos encontrar, por exemplo, nos indivíduos de certos povos vivazes, como os italianos, os árabes ou os judeus, etc.; cujas culturas valorisam a conversação físicamente animada. (Por conseqüência, não há tantos sujeitos que falem pelos cotovelos entre os japoneses, suecos ou os dinamarqueses…) Ora, os falastrões, quando gesticulam agitam as mãos, os braços e, naturalmente,… os cotovelos!
BURRO
A origem do termo até hoje não foi totalmente esclarecida, mas acredita-se que venha do Latim burrus (“ruço, pardo avermelhado”), da expressão asinus burrus (“asno ruço”).
No sentido de “estúpido”, “pouco inteligente”, etc., parece se originar do fato de o burro ser um animal especialmente teimoso. Não há prova científica de que o burro seja mais “burro” que seus primos eqüinos: cavalo, mula ou zebra.
Quanto à cor avermelhada, não existe uniformização nesse sentido. “Burros” há de todas as cores, raças, tamanhos e idades. E a burrice – freqüentemente atribuída aos lusitanos -, tampouco é privilégio de nossos antepassados.
Não nos precipitemos, também, em concluir que o vocábulo, burra, designe a fêmea do burro. Significa, isto sim, uma prosaica arca de madeira, usada para guardar dinheiro. Assim, quando alguém afirmar que “a burra está repleta de dinheiro”, poderá não estar aludindo a nenhuma apresentadora de programa infantil enriquecida…
BITOLA
Do termo “bitola” (distância entre as rodas de um veículo, num mesmo eixo), sabe-se apenas que não vem do inglês, nem do francês, nem do alemão, ou de outro idioma hegemônico.
O que se sabe é que a bitola nas ferrovias brasileiras tem sido de 4 pés e 8,5 polegadas. Por que foi adotada essa medida? Porque essa era a bitola das ferrovias inglesas, e foram ingleses os construtores de nossas primeiras estradas de ferro. E, por que os ingleses adotaram essa medida?… Porque os primeiros vagões de trem, na Inglaterra, foram construídos por fabricantes de carroças, que já a usavam em seus veículos. Mas, por que eles adotavam essa medida?… Porque as carroças iriam trafegar nos caminhos reais da Europa! E por que as estradas européias tinham essa largura?… Porque foram construídas pelo antigo Império Romano, e consideravam a largura do carro romano de dois cavalos. Está bem, mas por que as carroças romanas tinham essa largura?… Porque foram feitas para acomodar 2 traseiros de cavalos romanos!
Quanto a etimologia do vocábulo “bitola”, assim como as razões da largura dos traseiros dos cavalos romanos, só Deus sabe!…
CICERONE
- Serviu-me de cicerone um preto… – Exemplifica o filólogo Cândido de Figueiredo. Todos sabem o que significa e quanto é usado o termo cicerone. Pelo som da palavra também facilmente deduzimos que a sua origem é italiana. Cicerone é um guia turístico, e freqüentemente também intérprete; é um guia que descreve as coisas com grande palavreado. Só assim ele poderia dar a idéia, ainda que caricata, de um orador fluente. O termo, nesse sentido, provém da conhecida ironia italiana. Ciccerone, é como os italianos chamam Cícero– o mais fluente e brilhante orador da Roma antiga. Os italianos, ao verem alguém que fala pelos cotovelos, dizem, por piada: Ciccerone!…
CHOPE
Todo mundo deduz que a palavra chope vem do alemão. Mas o que pouca gente sabe é que o termo não designa a bebida, mas a quantidade dela. Quando os primeiros alemães vieram para o Brasil, no século XIX, havia na Alemanha uma unidade de medida chamada choppen (cerca de meio litro), de que derivou a palavrachope. Os alemães costumavam pedir: – “Ein Choppen Bier, bitte…” (Um “choppen” de cerveja, por favor!…) Mas choppen servia também para qualquer outro líquido: vinho, azeite, vinagre, ou de óleo de iluminação. Assim como, na época, tínhamos no Brasil o quartilho – hoje totalmente em desuso – ninguém mais sabe, na Alemanha, que coisa é choppen. Se você quiser beber um “chope” na Alemanha, deverá pedir lagerbier ouglasbier . Pois se pedir choppen, o garçom alemão vai pensar que você é grego, e que já está bêbado…
TRAVESTI
Travesti, vem do verbo francês travestir, e não tem o significado disso que muita gente pensa, não!… É apenas o inocente mascarar, disfarçar, fantasiar. Portanto, que ninguém se admire se um austero pai de família francês contar, com um sorriso de embevecimento, que seu filho é um grande travestisseur (travesti), que não perde uma única “festa alegre” - como o Carnaval de Lyon, onde fez muito sucesso travestido de “capitão dos lanceiros do século XVIII”, com imensos bigodes enfunados…
TIRAR O CAVALO DA CHUVA
A expressão de gíria tem o sentido de desista, será inútil, vais esperar à toa, etc. No Brasil de antigamente, era costume quando um visitante chegava a uma fazenda, se a visita fosse breve, deixar o cavalo com que viera ao relento; se, entretanto, fosse demorar, recolhia a montaria para um local coberto. A gentileza obrigava o dono da casa a convidar o visitante: – “Seu Fulano, por favor, tire o cavalo da chuva”. E o outro a responder algo como: – “Obrigado, seu Sicrano, mas não carece; a demora é pouca, etc…” Por analogia, quando alguém acha que a pretensão alheia é descabida ou improvável, diz: Se você espera isso, pode ir tirando o cavalinho da chuva! (o mesmo que: pode esperar sentado!).
SEM DIZER ÁGUA VAI
Até meados do século XIX, era habitual nas cidades as pessoas jogarem na rua a água servida das casas. Mas, para evitar que algum distraído passante viesse a tomar um “banho” indesejado, havia a regra tácita, segundo a qual o morador, antes fazê-lo tinha que avisar gritando: “Água vai!”.
No sentido figurado, sem dizer água vai, portanto, significa fazer algo de repente, de supetão, sem aviso, etc.
DAR NO PÉ
A expressão dar no pé, no sentido de ir embora, fugir, correr; é bem antiga. Já Antônio Delicado, no seu livro “Adágios portugueses reduzidos a lugares comuns”, de 1651, registra o provérbio: “Dar no pé, que tempo é”. Já houve outras variantes do termo, contudo. No filme “Alô, alô, Brasil” de 1935, o personagem de Barbosa Júnior diz a um conhecido que está dando em cima de uma mulher casada. – “Mas, e se o marido aparecer?” – pergunta o outro. – “Ah, aí eu chamo no pé!” – é a resposta.
A CARA ESCARRADA
É a imagem escarrada do pai, é a cara escarrada da mãe, etc. Quantas vezes não ouvimos isso? Escândalo na família? Na verdade esse é mais um caso em que a boca do povo transformou uma bela expressão, numa grande bobagem. Ou como diria um dos matutos do Cornélio Pires: Isso é “bestêra”! A locução original é a imagem em carrara do Fulano; é como se fosse uma estátua do Fulano. Isso porque Carrara é a região da Itália de onde vem o mármore com que os grandes escultores renascentistas, como Michelangelo, fizeram suas magníficas estátuas.
GROGUE
Grogue , vem do inglês “groggy”, que significa estado de estafa, sonolência, tontura. Fica grogue o boxeador que leva na cara um gancho de direita do adversário, por exemplo. Embora também haja quem atribua o termo, ao nome da bebida alcoólica grogue, feita à base da mistura de rum, água e açúcar. Como diria o Barão de Itararé, “quem bebe muito grogue, fica muito grogue”. Qualquer que seja a origem do termo, entretanto, o que importa é que significa embriagado, tonto, zonzo, etc.
CHIQUE
O conhecido termo, usado como adjetivo, tem o sentido de elegante, catita, vistoso, belo. Em frases tipo: “Menina, você vem hoje muito chique!” Serve também para “um tecido chique”, “um espetáculo chique”, etc. A palavra origina-se do francês “chic”, procedente por sua vez do alemão “schick” (elegante, janota). Mas, na França designa especialmente a habilidade ou destreza, com que se executa uma obra de arte. E “podre de chique” de onde vem? Ah, “podre de chique” é frescura mesmo…
TORCEDOR
Como todos sabemos, a expressão de gíria brasileira significa apoiador de uma equipe ou de um atleta, de uma modalidade esportiva qualquer, especialmente o futebol. O termo foi cunhado pelo escritor brasileiro, Coelho Neto, cujo filho mais velho, Mano, foi um dos grandes atletas do futebol, no Rio de Janeiro do início do século XX. A expressão torcedoras, Coelho Neto teria criado referindo-se às moças elegantes que, assistindo as partidas de seus times favoritos, torciam nervosamente as suas luvas.
BADERNA
O termo significando barulheira, bagunça, confusão, desordem; vem do nome dançarina e cantora italiana, Marietta Baderna, que estabeleceu-se no Rio em 1849. Em pouco tempo ganhou o palco e conquistou o público do Teatro Imperial, que vivia lotado por seus admiradores apaixonados: os badernistas. Os “badernistas” eram jovens, e demonstravam o seu entusiasmo com gritos, assobios e pateadas (bater com os pés no soalho). Além disso, Marietta era muito liberal para a época e tinha espírito contestador, provocando a ira dos mais velhos e conservadores, que achavam que ela representava uma má influência para a juventude.
MAL E PORCAMENTE
Essa expressão de uso comum, para começo de conversa, foi adulterada no passar do tempo. Inicialmente ela era “mal e parcamente” – isto é: Mal e mal, apenas o mínimo, por um triz, de modo imperfeito, etc. Mas como “parcamente” não era palavra do vocabulário popular, as pessoas trataram de substituí-la por outra parecida, bastante conhecida, e adequada à idéia que se queria dar. E ficou o “mal e porcamente” – sob veementes protestos da classe suína!
A TORTO E A DIREITO
Especialmente usado na locução atirar a torto e a direito ou bater a torto e a direito, de quem, sentindo-se agredido ou encurralado, agride a todos que encontra por perto, sem discriminar inimigo ou amigo. A expressão é muito antiga, e Cândido de Figueiredo lembra que é encontrada em outras culturas européias também (em francês há À tort e à travers). O termo viria dos cegos que mendigavam nas antigas feiras populares européias, e que, muitas vezes, eram provocados por troça, apenas para vê-los furiosos, desferindo bastonadas a esmo: atirando aos montes, a torto e a direito, para a direita e para a esquerda…
DAR SOPA
Sopa é qualquer coisa fácil, e a expressão de gíria carioca, dar sopa aplica-se quando uma mulher facilita (ou até estimula) a aproximação de um homem, com intenções amorosas. Como se espera que as mulheres sejam recatadas e “difíceis”, fica assim facilitada a abordagem masculina. O termo era freqüente nas “chanchadas” (comédias carnavalescas) dos anos 50, particularmente na boca dos personagens do comediante Zé Trindade. Tipo: – Rapaz, vou lá! Aquela “dona boa”, tá me dando sopa!
SOPA
O termo de gíria brasileira surgido nos anos 40 do século XX, sopa, significa algo “fácil” pelo fato dessa forma de alimentação ser tida como de fácil ingestão e digestão. Até mesmo quem não tem dentes – como os idosos, ou os bebês, a quem são dadas “sopinhas” – podem se alimentar se sopa. Ao mesmo tempo, a sopa tem fama de leve e reconstituinte, daí ser aconselhada para os enfermos. (vide dar sopa ).
DOURAR A PÍLULA
Esta frase tem o significado de tornar algo desagradável, como coisa fácil de aceitar. “Antônio Delicado, na sua obra ”Adágios portugueses reduzidos a lugares comuns”, de 1651, já menciona o provérbio: “Se a pirola bem soubera (se tivesse gosto bom), nam se dourara por fora”. Ou seja: o remédio de gosto amargo, é enfeitado para “enganar” o usuário. Entretanto, onde “dourar” entra nessa história? Acontece que os antigos boticários, chamavam “dourar” colocar uma capa adocicada (açúcar, caramelo, mel) nas pílulas amargas, para disfarçar o gosto ruim, tal qual os laboratórios farmacêuticos fazem ainda hoje.
SOPA NO MEL
Cá entre nós: sopa no mel deve ficar horrível! No popular: uma porcaria – estragando tanto a sopa quanto o mel. De onde vem, então, a expressão idiomática “sopa no mel”, tão difundida entre nós, para expressar aquilo que vem a calhar, que acontece da forma mais conveniente, no momento mais propício, que chega a propósito? Ela surgiu em Portugal, provavelmente no século XV ou XVI. Antônio Nogueira Santos explica que, nessa época, sopa significava “bocado de pão que se ensopa”. No linguajar de nossos dias, seria, portanto: ensopa no mel.
ESTEPE (PNEU RESERVA)
A etimologia do termo estepe, no sentido do pneu reserva que levamos no porta-malas do automóvel, origina-se do abrasileiramento do termo inglês step tyre , “pneu do estribo” . Isto porque os primitivos automóveis costumavam trazer o pneu sobressalente (tyre), sobre o estribo lateral (step). Nos anos trinta, certa vez um fazendeiro entrou esbaforido numa oficina, em Bagé, pedindo socorro, pois tinha ficado na estrada “com umaursa sem estrepe”. Somente depois de muita conversa foi que o mecânico conseguiu entender, que o homem estava era com um Hudson (marca de carro), sem estepe!
SANTINHA DO PAU OCO
O termo, que significa fingida inocência, vem da época do Brasil Colonial. Um dos artifícios de que se valiam os mineradores nacionais para burlar o rígido controle dos fiscais da Coroa Portuguesa, era contrabandear ouro em pó e pedras preciosas, dentro de estatuetas ocas de madeira, representando a Virgem Maria. Desta forma escapando do pagamento de pesados impostos. O disfarce em ícone católico, propiciava proteção contra o exame meticulosos dos portugueses, e funcionou com sucesso por certo tempo, até a burla ter sido denunciada e descoberta. Tais estatuetas, usadas pelos contrabandistas com essa finalidade, passaram a ser conhecidas como santinhas do pau oco.
SACRIPANTA
A palavra é originária de Sacripante, personagem muito salafrário do poema épico “Orlando Furioso”, escrito por Ludovico Ariosto em 1516. O sentido é de velhaco, patife, pesoa capaz de todas as violências e indignidades. É por isso que quando se chama alguém de sacripanta, o cidadão fica muito mais furioso que o próprio Orlando.
BATER A CACHOLETA
Ir desta a para a melhor, desencarnar; bater as botas. O termo vem de Portugal, uma vez que no português popular arcaico, cacholeta tinha o significado de cabeça. Provém do fato de que o moribundo, num último espasmo, no instante da morte, costuma levantar a cabeça do leito e depois deixá-la cair de súbito no leito,batendo a cacholeta.
BATER AS BOTAS
A macabra expressão difundiu-se durante a Guerra do Paraguai, para significar morrer, na linguagem dos soldados. Quando os soldados eram gravemente feridos, eram estendidos no chão ou numa maca, pelos companheiros ou pelo corpo médico, e, nos estertores finais, sacudiam espasmódicamente as pernas,batendo as botas uma na outra.
CHULIPA
Nos estados do Nordeste e particularmente no Ceará, os dormentes da estrada de ferro são vulgarmente conhecidos por chulipas. Esta palavra é originária do inglês, pelo fato da primeira ferrovia cearense ter sido construída por uma firma inglesa. Os engenheiros britânicos tiveram muitas vezes que lidar com os dormentes, pronunciando amiúde a palavra sleeper, até então desconhecida dos trabalhadores. Esse vocábulo significa dormente e se pronuncia, mais ou menos, slipa. Depois – como afirmou o Barão de Itatararé – foi mais fácil passar de slipa para chulipa, que de Germano para gênero humano.
PRONTO (ESTAR)
Expressão que significa estar sem dinheiro algum, sem um tostão nos bolsos. Bastos Tigre afirma que a origem da expressão pronto deve-se ao boêmio Clímaco Barreto, do Rio de Janeiro, que por volta de 1905 – 1906, nas suas noitadas bebia muito sem ter dinheiro. Na hora de pagar, levantava os braços dizendo aos garçons que o cobravam:
- Pronto! Revistem-me e vejam se descobrem por aí, em qualquer bolso, um único níquel…
FORRÓ
No início do século XX, os engenheiros ingleses que dirigiam a construção de ferrovia em Pernambuco, promoviam bailes periódicos de que participavam o pessoal da administração da obra, as autoridades locais e membros da comunidade britânica. Ocasionalmente esses bailes eram mais democráticos, abertos a todos, ou seja “for all” ( for ól). Os nordestinos iletrados, pegando a palavra de ouvido, diziam: “Hoje o baile é forró, gente!”.
FEITO NAS COXAS
Calma! Ao contrário da explicação escabrosa que logo vem à mente dos maliciosos, a origem do termo é bem inocente. Na época colonial, as telhas eram feitas pelos escravos nas olarias, e as havia de duas espécies: as telhas de primeira, para as casas dos senhores, eram moldadas em formas; e as telhas de segunda – para cobrirem estábulos, galpões, engenhos – que os escravos as conformavam moldando a argila nas próprias coxas. Como pode-se imaginar, eram telhas bem vagabundas e irregulares, essas feitas nas coxas. Viram como não se deve tirar conclusões precipitadas?
QUINTOS DOS INFERNOS
A literatura religiosa medieval já reconhecia a existência de cinco infernos. Mas o termo, entre nós, parece ter se originado do imposto de 20% que a Coroa Portuguesa extorquia, no período colonial, de todo o ouro produzido no Brasil. Isso causava tanta revolta entre os brasileiros da época, que ao referirem-se ao detestável imposto, sempre diziam: “Os quintos dos infernos!”. Logo, os quintos dos infernos passou a ser o lugar para onde os colonos, quando enfurecidos, costumavam mandar o rei de Portugal, o vice-rei, a sogra, etc.
ZAGA
Este é um termo bem familiarizado com o futebol. É nome dado à posição dos dois jogadores da defesa. Zaga é uma espécie de palmeira de que os índios faziam lanças, chamadas azagaias. Na defesa contra os inimigos, os índios costumavam tomar posição estratégica nos lugares onde as zagas existiam em grande quantidade. Assim, enquanto uns iam produzindo azagaias em linha de montagem, outros as iam arremessando nas barrigas dos inimigos.
URSO (URSADA)
O brasileirismo originou-se do fato desse animal ser tido como traiçoeiro, não encarando seus adversários nos olhos, e andando à volta deles para atacá-los traiçoeiramente. E, principalmente, por abraçar suas vítimas, esmagando-as e segurando-as para mordê-las. Representa o amigo falso, como todos nós conhecemos alguns por aí, que mal nos vêem correm a nos abraçar.
CAMUNDONGO (GUINDASTE)
Quem for estranho ao meio, ficará surpreso ao visitar um porto brasileiro, e ouvir os estivadores chamarem os gigantescos guindastes, que içam toneladas de cargas aos navios, de camundongos. Especialmente sendocamundongo o nome dos filhotes de rato! Medeiros e Albuquerque explica que os primeiros guindastes portuários vieram dos Estados Unidos e os seus maquinistas eram americanos. Quando eles iam baixar uma carga, exclamavam: “Come down!… Come down!…”, para avisar quem estava embaixo. Para os operários brasileiros, os gringos eram uns doidos com aquele: “Camundongo!… Camundongo!…”
BARBEIRO (BARBEIRAGEM)
Lima Barreto, numa crônica, diz que a origem do apelido depreciativo barbeiro, dado ao motorista que dirige mal, vem da época das carruagens. No tempo do Império, os cocheiros consideravam-se a elite das camadas populares, e especialmente superiores aos barbeiros. Assim, quando um cocheiro cometia um erro na condução da carruagem ou dos cavalos, os colegas o chamavam: Barbeiro! Com o advento do automóvel, no começo do século XX, muitos cocheiros passaram a motoristas, e o termo depressivo, aos inábeis ao volante.
SINAGOGA
Como brasileirismo, sinagoga, tem o significado de reunião tumultuosa, barulho, confusão. Por quê? Sinagoga é o templo dos judeus. De acordo com os ritos religiosos dos hebreus, a assembléia nesses templos era tumultuosa. Muitas vezes os fiéis gritavam de tal maneira que os brasileiros católicos que passavam por perto, tinham a impressão de uma casa de loucos.
MÃE-BENTA
O nome dado ao conhecido bolo de farinha de trigo, manteiga e ovos, vem do nome de uma conhecida preta que vendia doces, no Rio de Janeiro, no século XIX. Era exímia doceira, e gostava, para agradar a freguesia, de apresentar ao público certas novidades feitas com farinha de trigo. Chamava-se ela Benta Maria da Conceição, mas os cariocas deram-lhe (e ao doce) o cognome de ”mãe-benta”, pelo seu aspecto de velha baiana, já curvada sob o peso dos anos.
BUNDA
Os brasileiros coloniais perceberam que as escravas africanas costumavam ter as nádegas mais desenvolvidas que suas irmãs européias. Em particular as pertencentes ao povo bundo, bantos que habitavam algumas zonas de Angola. Logo toda a mulher generosamente desenvolvida nessa região do corpo, recebeu o epíteto de bunda. Com o tempo, a palavra passou a termo genérico – para designar traseiro de qualquer raça, idade, tamanho ou gênero.
CORNO (CORNUDO)
Ninguém sabe ao certo porque os chifres tornaram-se o símbolo do marido enganado. Há quem diga que é pelo fato da vaca (a “mulher” do touro), não ser exclusiva de um só macho. Pode ser: afinal chamar uma mulher de vaca, costuma deixá-la furibundíssima! Apesar de ser a vaca um animal tão útil e simpático… O fato é que essa associação não se restringe ao Brasil. Cláudio Moreno diz que em muitas aldeias da Europa primitiva, a comunidade costumava humilhar o marido traído fazendo-o desfilar com a cabeça enfeitada por chifres de boi ou cerva. Caso em que literalmente podia-se dizer que colocaram-lhe chifres.
BOSSA
A palavra bossa é tomada como aptidão, jeito, estilo, tendência para alguma coisa (arte, esporte, etc.). Termo muito popular nos anos 60, daí a bossa nova, por exemplo. Mas literalmente, bossa quer dizer caroço. De onde surgiu a gíria, então? Aparentemente veio da frenologia, muito popular no século XIX, que supunha que o formato do crânio, e suas protuberâncias, revelavam as tendências e pendores de uma pessoa. Hoje afrenologia está tão fora de moda quanto a bossa nova.
CASA-DA-MÃE-JOANA
É uma expressão da língua portuguesa que significa o lugar ou situação onde vale tudo, com total permissividade e desordem. O termo veio de Portugal e remonta ao século XIX. Câmara Cascudo o atribui à rainha Joana de Nápoles, que levava vida desregrada e permissiva e regulamentou os bordéis. Uma das normas dizia: “O lugar terá uma porta por onde todos possam entrar”. Trazido para o Brasil colonial, casa-da-mãe-Joana tornou-se sinônimo de bordel, casa de tolerância; onde cada um faz o que quer.
CASA-DA-SOGRA
A expressão de gíria, no sentido de lugar onde o sujeito faz o que lhe dá na veneta, é muito antiga. Já em 1651, numa coletânea de adágios populares portugueses, Antônio Delicado registra: Estende-se (fica à vontade) como vilão (malandro) em casa de seu sogro. Deve-se ao fato de que, até meados do século XX a grande meta de qualquer mulher, era o casamento. Tanto que os pais da moça costumavam dar ao genro, que fazia a gentileza de levar-lhes a filha, uma remuneração: o dote. Imagina-se que o candidato a genro devia ser tratado pela sogra com todos os mimos!…
MOLEQUE
O brasileirismo é originário da palavra africana muleke (garoto). No Brasil escravocrata, toda casa tinha o seumoleque. Pretinho esperto e gracioso, para levar recados, fazer compras, fazer companhia às crianças da casa, etc. Já em 1811, Luiz Joaquim dos Santos Marrocos, nas suas famosas crônicas epistolares, relata peripécias do seu moleque. A simpatia despertada pelo moleque, revela-se nos personagens nele inspirados, como o Saci Pererê, e o Negrinho do Pastoreio. Hoje o termo é aplicado a todo e qualquer menino, e é comum um pai referir-se ao seu próprio filhinho como “o meu moleque”.
BACANA (OU BACANO)
É um brasileirismo, do linguajar da rua, que originou-se de bacanal – festa orgíaca e licenciosa em honra de Baco, divindade da mitologia romana. Em certa época o povo costumava dizer de uma festança qualquer, ainda que não orgíaca: “Foi ótimo, foi um bacanal!”. Depois o neologismo passou a designar alguma coisa bonita, interessante, da moda.
BANGUELA
Provém dos africanos da região de Benguela, na Angola portuguesa, que consideravam muito atraente a falta de alguns dentes da frente das pessoas. Os escravos ali embarcados para o Brasil costumavam ser desdentados, daí o surgimento do termo. As beldades daquele povo sujeitavam-se à extração de um ou dois dentes, sem anestesia, com o mesmo estoicismo com que hoje as socialites submetem-se a uma operação plástica – tudo em nome da beleza!…
NO TEMPO DO ONÇA
A expressão, que significa há muito tempo atrás, vem do apelido dado pelo povo a Luís Vahia Monteiro, que foi governador e capitão-geral do Rio de janeiro. Ranzinza e genioso, era dada à freqüentes acessos de fúria. Afinal, enlouqueceu no cargo, tornando-se até violento. Por essa razão foi apelidado “o Onça”. E a expressão se justifica no sentido de muito antigamente, pois ele governou de 1724 a 1732.
PULO DO GATO
A expressão vem de conhecida fábula: A onça queria devorar o gato, mas este era muito ágil nos seus pulos, e sempre escapulia. Ela urdiu então um plano: fingiu-se amiga, e pediu ao gato que lhe ensinasse a pular. O gato concordou, e ensinou-lhe uma série de pulos. Quando a onça pensava que já conhecia toda a matéria, saltou sobre o gato para devorá-lo, mas este deu um pulo inédito, e escapou-lhe das garras. A onça então protestou: “Esse pulo você não me tinha ensinado!” “É claro que não”, respondeu o gato, matreiro, “O mestre nunca ensina tudo o que sabe!” Esse é o pulo do gato. Historinha é chocha, mas a expressão ficou…
DAR ZEBRA
A expressão de gíria brasileira, que significa um resultado totalmente imprevisto, provém do jogo do bicho. Com o tempo, a expressão passou para as modalidades esportivas, em especial o futebol, passando a ser considerado zebra um resultado totalmente impensado. Por exemplo: quando o franco favorito para vencer uma partida, acaba perdendo o jogo. De fato, se o resultado de uma das extrações dessa loteria ilegal inventada pelo Barão Drummond em 1892, for a zebra, será totalmente inesperado, …uma vez que a zebra não consta da relação dos 25 animais que emprestam seu nome para a popular bolsa de apostas!
LARÁPIO
Esse termo, no sentido de ladrão, deve sua origem ao seguinte fato: em Roma antiga havia um pretor chamadoLucius Antonius Ruffus Appius – se assinava habitualmente L. A. R. Appius. Acontece que esse pretor era um homem sabidamente desonesto. Como tantos homens públicos do Brasil de hoje (leia-se: políticos), costumava misturar o que era dos outros com o que era seu. Isso levou o povo romano a chamar todos os patifes e gatunos de larápius!
FIASCO
O termo vem do italiano, significando um fracasso, vexame, e outras situações nada agradáveis para quem faz o fiasco. Na Europa, nos séculos XVII e XVIII, era costume os espectadores levarem frascos vazios para os teatros, para, em caso do espetáculo nãos lhes agradar, soprarem nos gargalos, causando uma zoeira infernal, como forma de vaia. Ora, em italiano frasco é fiasco; daí…
TURCO (TURCO DA PRESTAÇÃO)
No Brasil popularizou-se a designação de turco para os árabes em geral. Entretanto, os tais turcos começam por não serem turcos. Na verdade são sírios e libaneses, o que é coisa diferente. Tal equívoco se deve a fato de que no período em que esses imigrantes começaram a vir para o Brasil – fins do século XIX, até 1918 – a Síria e o Líbano estavam sob domínio da Turquia, e eles vinham com passaporte turco.
FETICHE
Esse termo, os portugueses conseguiram a façanha de exportá-lo, e depois importá-lo novamente adulterado! Os lusos, ao colonizarem parte da África, difundiram entre os nativos muito de nosso vocabulário. Os negros receberam a palavra feitiço, que pronunciavam fetiche, e usavam para designar qualquer coisa que os maravilhava – um remédio, uma cerimônia, um ídolo. Anos depois, os exploradores franceses acharam lá a palavra, e passaram-na para a sua língua. E nós – que sempre nos encantamos com os termos estrangeiros – a adotamos para significar totem, máscara, etc.
CARIOCA
Oca é o termo tupi-guarani para designar casa, habitação; cari significa branco. Quando os colonizadores construíram as primeiras casas, formando o vilarejo que deu origem à atual “Cidade Maravilhosa”, os índios exclamaram Carioca! Isto é, as casas dos brancos!
AMAZONAS (RIO, ESTADO)
As amazonas eram as mulheres guerreiras da mitologia Greco-Romana. Em 1540, o desbravador Francisco Orellana foi atacado por ferozes índios cumuris, cuja aparência – rosto arredondado, cabelos longos, sem barbas, sem pelos no corpo – fez os europeus suporem terem combatido uma horda de mulheres guerreiras. Contudo, a afirmação de que os homens de Orellana, ao deles fugirem, tenham exclamado: “Puxa! São ainda mais bravas do que a minha mulher!…”; carece de comprovação histórica.
I. N. R. I.
Expressão que os judeus escreveram na cruz em que morreu Cristo. São iniciais das palavras Iesus Nazarenus Rex Iudeorum (Jesus Nazareno Rei dos Judeus). O que não justifica o registro que fez aquele inventariante, no balanço de uma loja de artigos religiosos: “Crucifixos: Quantidade:…12 pç; Marca:… I.N.R.I”.
CADÁVER
Vem dos antigos romanos, que gostavam de abreviar as coisas desagradáveis… Para eles, um homem ou um animal mortos eram, “carne dada aos vermes”, ou seja: “caro data vermibus”. Isso, entretanto, os romanos não diziam com todas as letras. Assim, para transmitir à família, aos parentes e amigos, que alguém havia morrido, eles faziam essa comunicação de forma sintética, dizendo simplesmente que o morto era “ca-da-ver”; empregando apenas a primeira sílaba de cada palavra (CA-ro, DA-ta, VER-mibus).
PARA INGLÊS VER
A expressão, que significa apenas para as aparências, surgiu por volta de 1830, quando a Inglaterra pressionou o Brasil para que promulgasse leis que coibissem o tráfego de escravos. A Inglaterra, na época, era a nação mais poderosa do mundo. Além disso, os ingleses eram aliados e protetores de D. João VI. Portanto a solicitação foi acatada, mas (como continua ocorrendo até hoje no Brasil) foram leis que todos sabiam que nãos seriam seguidas, visavam apenas contentar os britânicos. Ou seja: só para inglês ver.
POR AS BARBAS DE MOLHO
Acautelar-se, prevenir-se. Na antiguidade as longas barbas eram um símbolo do patriarcado, significando honra, sabedoria, poder. Basta ver que D. Pedro I, barbeado; era o estouvado, o irresponsável. Já seu filho, D. Pedro II, de longas barbas, foi conhecido como o imperador sábio, o filósofo… As barbas eram, portanto, objeto de cuidado por parte de quem as tinha. A expressão parece provir de um ditado espanhol que diz: “Quando vires as barbas do teu vizinho pegando fogo, ponhas as tuas de molho.”
CÃO QUE LADRA…
Vem do provérbio: “Cão que ladra não morde”. Isto é: quem muito ameaça não faz. O Barão de Itararé recomenda cuidado, porém: “Mas não convém facilitar, porque deve haver por aí muito cão analfabeto, que não conhece este belo provérbio”.
SERIGOTE
No Rio Grande do Sul, uma das peças do arreio é o serigote. Este vocábulo é apenas uma deturpação da expressão alemã: sehr gut (muito bom). Os imigrantes alemães trouxeram a inovação e quando a mostraram aos locais, estes entenderam ser esse o nome da peça. Teriam exclamado os gauchões: “Esse tal de serigotedos lamão é buenacho barbaridade!”
CHIMIA
No Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná, é comum se chamar a geléia de passar no pão, de chimia. O termo vem da palavra alemão schmier, e o doce foi trazido pelos imigrantes, popularizando-se devido à sua boa aceitação. Na verdade schimer em alemão não significa geléia específicamente, mas pasta, e até mesmo a graxa de lubrificação é chamada schmier. Muito cuidado ao pedir geléia na Alemanha, portanto!…
TRABALHO
Muitos acham o trabalho desagradável e massacrante. A etimologia do termo prova que o sentimento não é coisa nova. Vem dos antigos romanos, e deriva da palavra trepalium, que era, literalmente, um instrumento de tortura. Sinal de que já naquele tempo, algum Rufus devia dizer, em tom de queixa bem-humorada: “Meu serviço é uma tortura!”; ou melhor: “Meu serviço é um trepalium!”…
RANGO
Há quem afirme que a expressão de gíria rango, significando comida, se origina da palavra francesa ragout – termo popular no Brasil quando era chique falar francês. O ragout porém tem uma história até certo ponto nojenta: durante o cêrco de Paris, em 1870, quando a população já exgotara os depósitos de víveres, os cães, os gatos, os passarinhos de gaiola, e outros bichos de estimação, acabaram na panela. Mas isso não foi nada. Tornou-se famoso um cozinheiro que preparava os ratos com um tempero especial, que lhes dava um gosto de carneiro. Ou seja: rat-gout-de-mouton (rato-com-gosto-de-carneiro). Preferível o rango tupiniquim de arroz-com-feijão.
GRINGO
O termo, que significa estrangeiro, que não espanhol ou português, especialmente o alourado e de olhos claros, vem do espanhol griego (grego), e está documentado desde 1787. É que as pessoas diziam ser grego, toda a língua estrangeira que não entendiam. Com o tempo, o apelido passou a indicar também o falante dessa língua. O interessante é que gringo pode ser dito com muita simpatia, como no Sul do país, em que se refere aos italianos e seus descendentes (chamam até a si próprios gringos); ou de forma bastante pejorativa, como no México, onde significa norte-americano. Costumam dizer no México: “Pobre México, tão longe de Deus e tão perto de los
gringos…”
CUCA
O delicioso pão doce coberto com assúcar ou frutas, é tão popular no sul do Brasil, que muita gente o supõe algo da tradição culinária luso-brasileira. Ou então, de origem italiana. Já ouvimos dizer: “A minha nona faz uma cuca deliciosa, com a receita que a avó dela trouxe da Itália!”. Na verdade o termo cuca é corruptela do alemão kuchen (torta, bolo). Os imigrantes alemães, no século XIX, trouxeram a cuca para cá, e logo ela passou a ser feita (e comida) por gente de todas as etnias.
MACACO VELHO
No sentido de pessoa experiente, vem do ditado popular “Macaco velho não mete a mão em cumbuca”. Existe no Brasil uma conhecida árvore chamada sapucaia, cujo fruto é uma cumbuca, dentro do qual encontram-se pencas de castanhas. Quando o fruto amadurece, as castanhas vão caindo com o balançar dos galhos, por uma estreita abertura na parte inferior da cumbuca. Os macacos apreciam muito essas castanhas, e costumam enfiar a mão pela abertura para pegá-las. A mão, fechada e cheia de castanhas, aumenta de volume e o macaco não pode retirá-la, ficando preso. A liberdade só é recuperada quando o macaco, exausto, abre a mão e solta as castanhas. Essa tragédia, porém, só acontece com macacos novos, sem experiência da vida… Pois, macaco velho não mete a mão em cumbuca!…
NEGÓCIO
A expressão deriva do latim nec otium. A antiga aristocracia romana considerava o trabalho coisa indigna, castigo próprio para escravos. Por isso o nobre que se prezava, não fazia absolutamente nada. O ócio devia ser gozado com dignidade – otium cum dignitate. Até mesmo para a gestão de seus bens, utilizavam procuradores. Quando, por força das circunstâncias, algum aristocrata se arruinava, e era obrigado a fazer transações comerciais com os plebeus, sua reputação ficava maculada. Isso era considerado pela aristocracia, humilhante e vergonhoso, pois era a negação do ócio; ou nec otium. Coitados! Dá uma pena…
GASPARINHO
O termo, popular quando só havia a loteria comum, significa fração do bilhete. Deve-se ao conselheiro Gaspar de Silveira Martins que, quando ministro da Fazenda, foi quem autorizou a venda de frações de bilhetes de loteria. O povo passou então a chamar gasparinhos aos pedaços de bilhetes.
NÃO METER PREGO SEM ESTOPA
Tem o sentido de ser prevenido, tomar todos os cuidados, não fazer nada antes de certificar-se de que o resultado será certo. Por amor de Deus! – protestará alguém – o que tem estopa a ver com prego? Muito. O termo é originário de Portugal, onde, por tratar-se de uma nação de marinheiros, os brocardos freqüentemente têm conotação náutica. No caso, sempre que um prego ia ser cravado no casco de madeira de um navio, havia necessidade de vedar o furo, utilizando estopa com betume. Ou então, a caravela iria ao fundo…
ARARA
Os etimologistas concordam que a palavra arara é de origem indígena. Mas uns acham que é uma onomatopéia; o grito da conhecida ave daria a impressão que ela está dizendo “a-raa-ra”! Outra versão é a dos que afirmam que arara é formada pela repetição de ara, que significa periquito em tupi-guarani. “Ara-ara” seria, então, periquito duas vezes, embora – como observa o Barão de Itararé com muita propriedade – as araras sejam em geral 4 ou 5 vezes maiores que os periquitos. Vá lá se saber…
DAR COM OS BURROS N’ÁGUA
A expressão tem o sentido de fracassar, frustrar as expectativas, encontrar um obstáculo intransponível. A sua origem vem dos tempos coloniais, em que todo o transporte de mercadorias era efetuado por tropas de burros e mulas. O maior transtorno numa dessas viagens era perder o rumo, e inesperadamente encontrar um rio pela frente, sem ponte ou balsa por onde passar os animais. Esse revés era chamado dar com os burros n’água.
DE CABO DE ESQUADRA
Diz-se no Brasil e em Portugal “essa é de cabo de esquadra”, quando alguém apresenta um argumento estúpido, ilógico ou inadequado ao que está em discussão. Na época do Brasil Colônia, o cabo de esquadra era o militar que comandava uma esquadra – grupo mínimo de soldados numa tropa. Embora geralmente ignorantes, originários da zona rural, destacavam-se pela presunção de sabedoria e autoridade
A seguinte anedota do século XIX ilustra o assunto:
O cabo de esquadra explicava ao soldado o modo de fazer uma espingarda:
– Nada mais simples, – dizia-lhe ele – arranja-se um buraco, põe-se-lhe ferro à roda, e prega-se-lhe um cabo. Está pronta a espingarda!
DENTE DE COELHO
“Aqui tem dente de coelho!” traduz desconfiança, suspeição de que haja um causador oculto de algum fato. A expressão provavelmente originou-se em Portugal. É sabido que o coelho produz devastações nos bosques, lavouras e hortas. Assim, quando os hortelãos encontravam as suas plantações de alface, cenoura, couve, etc., destruídas, o suspeito óbvio era logo evocado: “Maldição! Aqui tem dente de coelho!”
DOR DE COTOVELOS
Mágoas causadas por amores frustrados, desilusão amorosa. Alude ao fato de os contrariados no amor, freqüentemente costumarem ficar com os cotovelos fincados na mesa de um bar, curtindo sua tristeza. E também as mocinhas (chamadas de “janeleiras” no século XIX), que ficavam com os cotovelos apoiados no peitoril da janela, olhando melancólicas para a rua, na esperança de ver o namorado surgir. A uma destas, a amiga tentou consolar, dizendo: “Calma, tudo passa na vida…” Ao que ao outra respondeu: “Sim, tudo; menosele!”
LÁGRIMAS DE CROCODILO
Tem o sentido de falsidade, hipocrisia. Tal expressão, utilizada no mundo inteiro, vem do fato de os crocodilos, quando estão devorando suas presas, fazerem pressão no céu da boca, estimulando suas glândulas lacrimais. Dão assim a falsa impressão de estarem chorando.
Piada dos anos 40 do século passado: Um homem seguia pela beira de um rio, quando, de repente, deu de cara com um enorme crocodilo. O sujeito percebeu que o animal estava com a barriga inchada, e que seus olhos vertiam copiosas lágrimas. Ele então começou a raciocinar em voz alta:
– Pobre bicho. Parece que está doente. E deve estar sofrendo muito para chorar desta maneira!
– É verdade – concordou o jacaré (era um jacaré falante, o danado…). – Estou inconsolável! Imagine que há pouco virou ali adiante uma canoa com três inocentes criancinhas, …e eu só pude comer duas!
CHEIO DE NOVE HORAS
Cerimonioso, cheio de cuidados. Durante muitos séculos, nove horas era a hora limite para a permanência das visitas, imposta pela norma da boa educação. A visita cerimoniosamente poderia dizer: “Já são nove horas, é hora de eu ir”. Ao que responderia o anfitrião, por educação: “Já? Não, ainda é muito cedo”. A esse respeito Antônio Delicado, na sua coleção de provérbios portugueses, no século XV, registra: “Às nove, deita-te e dorme”.
CASA DE GONÇALO
Casa onde o marido é dominado pela mulher. Antônio Delicado, na sua coletânea de adágios portugueses registra: Em casa de Gonçalo, mais pode a galinha que o galo. Gregório de Matos e Guerra (1636 – 1695), queixando-se injustificadamente da mulher, afirmava ser a sua casa de Gonçalo. Coitada; quando saiu de casa para escapar dos maus tratos, Gregório mandou buscá-la amarrada, conduzida por um capitão-do-mato, como escrava fugida.
CANTAR DE GALO
Mandar, dar as ordens. O termo vem do fato do galo ser o senhor plenipotenciário do galinheiro (só não tem poder de vida e morte; quem tem é a cozinheira…). O termo já aparece na obra “Adágios portugueses reduzidos a lugares comuns”, de Antônio Delicado, publicado em 1651; embora dirigido à crítica dos lares onde a mulher manda mais que o marido: Triste casa onde a galinha canta e o galo cala.
A VACA FOI PARA O BREJO
O brasileirismo tem o sentido de surgimento de complicação, acidente, dificuldade imprevista. Há pelo menos duas explicações para a expressão, ambas de origem na agropastoril: Uma atribui o dito ao aborrecimento, sentido pelos vaqueiros ao constatarem que uma rês meteu-se num atoleiro, prevendo a trabalheira que dará retirá-la; outra acredita que a expressão deva-se fato de que quando a seca torna-se mais severa, os animais começam a procurar os brejos, regiões que permanecem alagadas por mais tempo.
CHULÉ
Mau cheiro nos pés. Há quem afirme que a palavra é de origem africana, mas na verdade vem do termo latinosolea, a sandália de couro dos soldados romanos. Nas longas caminhadas que faziam as tropas romanas, ela ficava com um cheiro horroroso, o que deu origem ao termo. Com o passar do tempo, a palavra foi passando por alterações na Península Ibérica. Os portugueses foram mudando o termo, inicialmente para chuli, depois para chulo, até dar no atual chulé.
MATAR CACHORRO A GRITO
É um termo de gíria que significa estar totalmente desprovido de recursos para enfrentar uma dificuldade. Vem da situação do sujeito que é atacado por cães e que não dispõe de nada para se defender; nem uma arma, um porrete, uma pedra. Só lhe resta tentar assustar os cães com gritos!… Há uma anedota do século XVI, do sujeito que adentrando uma cidade estranha, é atacado por cães ferozes, e tenta inutilmente arrancar uma pedra do chão, para se defender, exclamando: “Maldita cidade esta, em que os cães estão soltos e as pedras estão presas!” Matando cachorro a grito, é aplicável tanto ao sujeito que não tem um centavo no bolso, quanto à moça que não consegue namorado, por exemplo.
CABRA DA PESTE (CABRA DA MOLÉSTIA)
Houve época no Brasil, que quem tivesse algum sangue negro nas veias, era chamado bode ou cabra . Assim, o birrento governador do Maranhão de 1806 a 1809, Francisco de Melo Câmara, por ter a tez amorenada, foi alcunhado O Cabrinha, pela população que o detestava. Além disso, em Portugal já havia o termo cabrão, para designar homem mau, criminoso, safado. Assim, as volantes que combatiam os cangaceiros no final do século XIX e início do século XX, os chamavam de cabras da peste, com intenção altamente ofensiva, de degradação racial e moral. Hoje, contudo, no Nordeste o termo passou a ter conotação positiva, de homem valente, perigoso, forte. Se no passado chamar alguém de cabra da peste era provocação de briga, hoje muitos nordestinos batem no peito e proclamam-se com orgulho: “Eu sou um cabra da peste!”
COLOCAR UMA PENINHA
Significa complicar; introduzir uma dificuldade adicional, e desnecessária, num problema qualquer. Expressão muito usada ao referir-se a questões de provas escolares, em que o professor coloca uma peninha, para dificultar. A expressão de gíria brasileira provém de uma conhecida anedota dos anos 30 do século XX.
Um sujeito propôs a outro esta adivinhação: “Qual é o bicho que tem quatro pernas, come ratos, mia, passeia pelos telhados e tem uma peninha na ponta da cauda?” Está claro que ninguém adivinhou.
- Pois é o gato – explicou ele.
- Gato com peninha na cauda?
- Sim. A peninha está aí só para atrapalhar.
CAVALO DADO
Se origina do ditado: de cavalo dado não se olham os dentes; que vem de tempos imemoriais. Sempre foi hábito examinar o estado dos dentes de cavalo que se cogitava comprar, por ser a maneira mais fácil de verificar a idade do mesmo. O grisalho do pelo pode ser camuflado com tintura, mas os dentes dos cavalos sofrem desgaste provocado pela areia e os pedriscos, que o animal morde junto com a grama. Contudo, o anexim afirma não ser de bom-tom fazê-lo, quando o cavalo foi dado de graça. O termo é aplicado de forma genérica: ao concedido de boa-vontade, não se fazem exigências.
COIRUJICE (MÃE CORUJA, PAI CORUJA, VÓ CORUJA, ETC.)
É um termo que significa enxergar nos filhos só aspectos positivos, mais inteligentes ou mais bonitos do que de fato são. O termo provém da seguinte fábula:
A coruja sabia que a onça andava devorando os filhotes dos animais da floresta. Assim, como dava-se bem com ela foi falar-lhe:
- Comadre, eu queria lhe pedir um favor. Sei que você lambe-se por um filhote, mas gostaria que você poupasse os meus!
- Com certeza! – respondeu a onça. – Afinal somos amigas. Mas diga cá, comadre: e como é que eu vou reconhecer os seus filhotes?
- Ah, – retorquiu a coruja, sorrindo embevecida. – Isso é muito fácil! Os meus filhotes são os animaizinhos mais lindos! Dentre todos os filhotes da mata, os meus são os mais bonitinhos!
- Pois então, fique tranqüila, – respondeu a onça. E saiu a caçar. Lá pelas tantas, deu de cara com as corujinhas, e até levou um susto. Aqueles bichinhos horrorosos – olhos esbugalhados, cabeça enorme, bico ridículo, emitindo pios esganiçados… Pensou a onça lá com seus botões (onça tem botões?): “Que coisinhas mais feias! Bom, estes certamente não são os filhos da comadre”. E nhac, os devorou.
TEM BOI NA LINHA
Há um problema adiante, há um obstáculo. A expressão de gíria, como tantas outras de uso generalizado hoje, tem origem ferroviária. Nos primórdios das ferrovias no Brasil, no século XVIII, era comum os trilhos serem invadidos não só por pedestres, carruagens, e carros de bois, mas até por… boiadas! Do ponto de vista do maquinista, atropelar um pedestre significava apenas que alguém ia encontrar-se com o seu Criador antes do previsto, colidir com uma boiada, entretanto, significava um desastre de grandes proporções e muita incomodação.
É BRABO, MAS É QUEIJO!
A expressão, comum no sul do País, significa é árduo, mas faz parte; é difícil, mas é assim mesmo. A origem é uma antiga historieta, de uma velha que vivia na casa do genro, com quem vivia às turras. A tal velha era louca por queijo, e mal o pobre genro comprava um, a sogra dava-lhe cabo num zás! Até que um dia ele resolveu dar uma lição na megera: tomou uma barra de sabão, a que deu o formato perfeito de um queijo, e guardou-o na despensa. No outro dia, ao entrar na cozinha, o genro deu com a velha devorando o sabão, com a cara sofrida, a boca espumando como cão hidrófobo, e lágrimas a escorrerem-lhe dos olhos; e a resmungar: “É brabo, mas é queijo!”
A TODO O PANO
Com toda a velocidade, com intensidade, com esforço máximo. Essa é mais uma expressão de origem náutica, originária de Portugal, nação de marinheiros. A todo pano, significa utilizar todas as velas de que dispõe um veleiro, visando obter o máximo de força e velocidade. A expressão já era popular no século XVI, pelo menos.
FICAR A VER NAVIOS
Diz-se de alguém que perde uma oportunidade por pouco, que fica frustrado, que não alcança seus objetivos.Consta que se originou da invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão. A resistência aos soldados do General Junot foi mínima, e quem pode preferiu fugir para o Brasil às pressas, acompanhando D. João VI, sua Corte e apaniguados. Alguns, porém, por virem de longe, ou terem sido avisados tardiamente, ao chegarem ao porto de Lisboa, só conseguiram ver a frota afastando-se, ao longe. Ou seja: “Ficaram a ver navios”.
DIABO A QUATRO
Significa fazer grandes tropelias ou desacatos; confusão, bagunça. A expressão provém dos espetáculos teatrais de feiras, da época medieval, na França, e da expressão faire Le diable a quatre. Havia um número popular em que entravam em cena o Diabo Lúcifer e três de seus diabos auxiliares. Provocavam enorme algazarra e confusão, para alegria do público que ria a valer.
DOSE PARA LEÃO
DOSE PARA LEÃO: O termo tem o mesmo significado de dose para cavalo e dose para elefante. Nos anos 60 do século passado corria essa anedota que pode ter sido a origem da expressão: Por um desses acasos (comuns nas anedotas de salão), morreram ao mesmo tempo o leão e o tigre de um circo. O diretor do circo, desesperado por ter perdido duas de suas principais atrações, resolveu recorrer a um artifício: contratou dois mendigos para vestirem as peles dos animais mortos, e fingirem-se de feras. Feito o acordo, os vagabundos ocuparam suas respectivas jaulas, e o circo seguiu em caravana até a próxima cidade, onde deveria se apresentar. Mas eis que são barrados, na entrada, por um cordão sanitário. Grassa uma epidemia, e naquele município todo e qualquer animal, para entrar, teria que antes ser vacinado. Com que o dono do circo concordou. Mas, quando o veterinário aproximou-se do “tigre” com uma seringa do tamanho de uma garrafa, e a agulha como um prego, “o tigre” protestou: “Ei! Isso não é dose para tigre; isso é dose pra leão!”
DOSE PARA CAVALO
Gíria que significa quantidade excessiva, exagero, demasiado. Também conhecida como dose para elefante. Supõe-se que sendo o cavalo um animal muito forte e o elefante um animal muito grande, necessitem de doses elevadas de remédio para que este venha a fazer efeito. Para os que acham que dose para elefante ainda não é o suficiente, há a dose para mamute.
XUMBREGA OU XUMBREGAS
Termo de gíria significando imitação barata, artigo inferior, carregação, etc. O termo vem do apelido deJerônimo de Mendonça Furtado, que foi capitão-geral e governador da capitania de Pernambuco e acabou deposto em 1666. Por usar bigodes enfunados, numa imitação barata dos do marechal-de-campo Armand Friedrich Von Schomberg, alemão que comandara as tropas portuguesas na libertação do domínio espanhol; passou a ser chamado jocosamente pela população, “o Xumbregas”.
BOTAR PANOS QUENTES
A expressão, no sentido de esfriar os ânimos, remediar, acalmar; é antiga e origina-se de Portugal. Nos tempos antigos, um dos remédios caseiros usados pelas comadres, quando alguém sentia uma dor de origem desconhecida, era botar panos quentes. Como não se pretendia a cura, mas o alívio sintomático, ficou a expressão. Os médicos de hoje, coitados, seguem na contramão dessas comadres e, nos inchaços, costumam prescrever a aplicação de gelo…
BIGODE
Alguns etimologistas dão a palavra bigode como derivada do termo visigoth, usado para designar o povo germânico visigodo, cujos guerreiros costumavam usar bem desenvolvida essa pilosidade sobre o lábio, e que estiveram pela Península Ibérica. Segundo essa corrente, os antigos portugueses, com a sua conhecida propensão para pronunciar o v como b ( vispo por bispo, biagem por viagem, etc.), com o tempo teriam adulterado a palavra. Já outros estudiosos atribuem o termo bigode aos normandos que, em sua passagem pela Europa continental, quando desejavam afirmar qualquer coisa com segurança, arrancavam um fio de bigode e faziam o juramento: By Gott (por Deus).
O DEFUNTO ERA MAIOR!…
Expressão sarcástica utilizada desde o século XIX no Brasil para fazer troça de alguém que veste roupas muito grandes para o seu tamanho. A expressão provém do hábito, na sociedade luso-brasileira, de repartir as roupas do falecido entre os seus parentes e amigos sobreviventes.
AMIGO DA ONÇA
A conhecida expressão de gíria brasileira, amigo da onça, significa falso amigo, inimigo dissimulado em amigo. O termo foi muito utilizado em certa época, quando as caricaturas do personagem “Amigo da Onça”, do humorista Péricles Maranhão, apareciam semanalmente, de 1943 a 1962, na revista “O Cruzeiro” – a de maior tiragem do Brasil na época. A origem do brasileirismo, assim como do personagem cômico, foi a seguinte anedota, conhecidíssima no início do século XX:
Dois caçadores conversam num acampamento. Diz um deles ao outro:
- O que você faria se surgisse uma onça agora aqui?
- Ora, eu dava-lhe um tiro!
- Não, mas se a espingarda estivesse descarregada?
- Então eu a matava com o facão!
- Mas, se não você tivesse facão?
- Eu então subia numa árvore, ué…
- Mas, e se não houvesse nenhuma árvore por perto?
- Aí eu saia em disparada.
- Não, não… Mas e se você ficasse paralisado de medo?
Com esta o interrogado encarou o amigo, e perguntou:
- Mas, afinal: você é meu amigo, ou amigo da onça?!
MONTANHA RUSSA
A chamada montanha russa caracteriza-se principalmente …por não ser russa! Trata-se de mais um dos inúmeros equívocos verificados com os termos importados. O conhecido brinquedo de parque de diversões foi inventado na Alemanha, de onde foi exportado para o resto do mundo. Os alemães a denominam rutschberg.Berg, montanha; e rutsch, de rutschen, escorregar. Os franceses confundiram rutsch com “russo” e fizerammontagne russe, que nós traduzimos por montanha russa, reproduzindo a asneira.
SARGENTO
Há um conhecido dispositivo de fixação de objetos a serem trabalhados, que no Brasil é conhecido pelos operários como sargento. De onde vem o termo? O aparelho surgiu em nossa terra no século XVIII, trazido por carpinteiros franceses, que o chamavam serrejoint. Sargento foi, portanto, mais um caso de deturpação de palavra estrangeira, que os nacionais repetiram como lhes pareceu terem ouvido.
NA PINDAÍBA
É termo vulgar no Brasil, com o significado de estar muito mal, na pior, nas últimas. Refere-se principalmenteà situação financeira, mas poderá também, em certos casos, aludir ao estado da saúde ou a outras necessidades. A princípio, está na pindaíba, quem não tem um tostão de seu. A palavra pindaíba designa uma fruta da família das Anonáceas, e o termo de gíria está ligado ao fato da sua polpa ser muito fina, ralinha e sem substância. Presume-se que pretenda dizer que a pessoa está tão sem recursos que não tem outra alternativa que alimentar-se dos frutos da pindaíba, mesmo sabendo que esta lhe oferecerá pouco alimento.
DO ARCO-DA-VELHA
Significa algo espantoso, inacreditável, absurdo ou inverossímil. Segundo alguns autores a expressão teria origem no Antigo Testamento. Sendo “arco-da-velha” o mesmo que arco-íris ou arco-celeste, seria este o sinal do pacto que Deus estabeleceu com Noé, segundo a Gênesis 9:16, que diz : “Estando o Arco nas nuvens, Eu ao vê-lo recordar-Me-ei da aliança eterna concluída entre Deus e todos os seres vivos de toda a espécie que há na terra”. Arco-da-velha nada mais seria, portanto, que a redução de “Arco da Lei Velha”. Convenhamos, coisa um bocado velha…
SANGUE AZUL
A expressão que significa nobreza de sangue, fidalguia; se origina do fato de que, no passado, a realeza européia orgulhava-se de sua “brancura”. Ter a tez bem branca era indício de que nunca fazia trabalhos ao ar livre, sob o sol, tipo de atividade que a nobreza considerava indigna, que devia ficar restrita aos plebeus. De tal modo sua tez ficava leitosa, que suas veias superficiais apareciam azuladas sob a pele…
A BESSA (A BEÇA)
Tem o sentido de com profusão, abundante, muito. O termo é atribuído às qualidades de argumentador do jurista Gumercindo Bessa, advogado dos acreanos que não queriam que o Território do Acre fosse incorporado ao Estado do Amazonas. Os argumentos de Bessa foram tão convincentes e numerosos, que logo se tornou famoso nos meios jurídicos. Uma vez um cidadão procurou o presidente Rodrigues Alves (1848-1919) para pleitear determinados favores, e com tal eloqüência expôs suas idéias que Rodrigues Alves teria observado: “O senhor tem argumentos a Bessa!…” Com o tempo, a expressão pegou e difundiu-se em toda a sociedade.
CRIOULO
No Brasil, crioulo é sinônimo de negro, de afro-descendente. Na sua origem, entretanto, o termo designava todo o indivíduo que, descendente de pais originários de outros continentes, tivesse nascido na América. Assim, ainda é tomado hoje na Europa, em espanhol e italiano, por exemplo. Também na Argentina, criollo é o natural do país, o argentino verdadeiro, de hábitos nacionais, em contraposição ao estrangeiro. O termo adquiriu esse sentido, entre nós na época da escravidão, quando se distinguiam os escravos provenientes da África dos já aqui nascidos, os chamados crioulos.
VEADO
De onde provém o termo de gíria veado, para designar homossexual? Há quem atribua ao fato de os veados serem animais gracioso e delicados. Mas, o estudioso Tenório D’Albuquerque, acredita que o termo vem do nome do médico judeu-alemão Dr. Hirsch, ele próprio homossexual e apologista do homossexualismo. No seu modo de ver, a maioria dos homossexuais eram verdadeiros gênios. Sucede que hirsch, em alemão, significa: veado.
CUECAS
O filólogo João Ribeiro diz que “estão explicadas pela sílaba inicial, pouco adequada a qualquer dissertação”. Ninguém se envergonha, entretanto, de falar as palavras cuecas e cueiros diante de pessoas de cerimônias.Em fins do século XIX já corria a anedota da solteirona beata que, por pudor, só se referia à essa peça de roupa branca como ecas. Curiosamente, hoje em dia, em Portugal, as calcinhas femininas são chamadas cuecas. E, convenhamos, tira todo o romantismo imaginar-se a beldade em cuecas…
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)




Nenhum comentário:
Postar um comentário